sexta-feira, 22 de maio de 2009

"Devemos pensar grande"


Nosso pobre e combalido mundo está envolto em múltiplas crises. Há pobreza em massa e desigualdade crescente dentro e entre países pobres e ricos. O desastre financeiro que começou com as hipotecas subprimes se espalhou inexoravelmente pelos EUA e pelo resto do mundo, ameaçando mergulhar a economia global num período prolongado de estagnação tão severa como a Depressão. O pior de tudo é que a mudança climática e a destruição de espécies estão sendo aceleradas mais rapidamente do que muitos cientistas e alguns governos pensavam que fosse possível.
Uma crise retro-alimenta e intensifica a outra. Depois de anos de “inovações” irresponsáveis, grandes instituições financeiras estão sendo resgatadas com dinheiro público e muitos executivos pegam o dinheiro e desaparecem, enquanto milhões perdem seus empregos e frequentemente suas casas. Vejam a explosão da bolha imobiliária, o estouro especulativo das commodities do mercado, impulsionando o aumento do preço dos alimentos e da energia. O aumento dramático do preço dos gêneros de primeira necessidade mergulham outras 150 milhões de pessoas na pobreza. Comunidades pobres em recursos fazem o que podem, derrubam árvores, matam animais e super-exploram a pouca terra que têm, mas os ricos causam, de muito longe, um dano muito maior, com suas dinossáuricas pegadas ecológicas.
Defensor devoto da redução das suas emissões de dióxido de carbono, os EUA destina mais de um terço do plantio de seu milho e soja aos biocombustíveis, pressionando os preços dos alimentos para as alturas. O aquecimento global e a fúria de tempestades que ele provoca atingem mais duramente as regiões mais pobres da Terra, assim como o Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) disse há muito tempo.
Então, há um caminho de saída? Sim, mas não o ambientalista bem conhecido e há muito advogado. Desculpem-me, mas “nós” não podemos salvar o planeta nem se amanhã “nós” reduzirmos o nosso consumo de energia pela metade. Eu não estou sugerindo que os indivíduos não devam fazer todas as mudanças que puderem, mas eles não devem nutrir quaisquer ilusões de que o comportamento pessoal, ainda que virtuoso quanto à emissão de dióxido de carbono, possa fazer diferença. Os maiores destruidores não vão desistir e medidas voluntárias são ineficientes. A escala é o problema, e nossa tarefa é promover um quantitativo e qualitativo salto na ação ambiental, reconhecendo que grande pode ser não apenas bonito mas crucial, se pretendemos evitar o pior.
Um passo desses é possível? Está o planeta salvaguardado enquanto o capitalismo internacional prevalece, com seu foco no crescimento e no lucro a todo custo, com a captura predatória de recursos e com a euforia financeira? Como disse um homem sábio: “Tudo para nós e nada para outro povo parece, em todas as épocas do mundo, ter sido a máxima vil dos senhores da humanidade”. Quem disse isso foi Adam Smith, em A Riqueza das Nações, não Karl Marx.
Se Smith estiver certo e nossos “senhores” continuam a exibir voracidade e avareza, devemos organizar uma revolução mundial antes de que possamos salvar a Terra? Há algum ponto único de ataque? Se sim, por favor, diga-me o nome do Czar e o endereço do Palácio de Inverno. Ele não é para ser encontrado em Wall Street, que não apenas sobreviveu ao 11 de Setembro mas parece ter capturado o governo norte-americano, a despeito de algumas das maiores empresas terem virado pó. Nem tão pouco alguém iria receber bem o sistema político que cobriu a vasta área em que essa revolução ocorreu.
Critérios básicos para novas construções devem ser tornadas a norma, enquanto outras podem ser reconsideradas em termos simples; famílias e proprietários de terras devem receber incentivos financeiros para construir “casas verdes” e painéis de energia solar - e venderem o excesso de energia para a rede de energia. A pesquisa pode ser orientada em direção das energias alternativas e materiais fortes e ultra-leves para aviões e veículos. Falando tecnicamente, nós já sabemos como fazer essas coisas, ainda que algumas soluções limpas ainda estejam mais caras que as poluentes. A produção em massa poderia alterar isso.
Susan George

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